A INTRODUÇÃO
Quer repelir uma pessoa
instantaneamente? Então tente convencê-la de algo que ela não acredita “no
grito”. Tente persuadir pela força (o que já é um contrassenso), e você perderá
o respeito do interlocutor.
O FATO
Uma distinta senhora sentou-se ao
meu lado no ônibus Pituba - São Rafael. Chegou cantarolando baixinho algo bem
agudo, que logo decifrei: era um hino a Jesus Cristo. Até aí tudo bem. Havia
ainda uma atmosfera de respeito entre nós. Cumprimentamo-nos com um “boa tarde”
formal e a viagem seguiu.
Só que eu não entendo por qual
motivo algumas pessoas, militantes de qualquer que seja a “causa”, querem enfiar suas idéias na cabeça de outras
pessoas. Não demorou muito para que minha vizinha de tamborete ligasse o
aparelho celular na função Atormentar a
Todos Com Música Em Local Público. Aí foi de lascar!
Fui posto em contato, forçadamente,
sem direito a reclamação, a um pesadelo sonoro de dar dó. Um daqueles lamentos de
10 minutos em que a cantora grita muito (mas muito mesmo), repetindo umas duas centenas de vezes a mesma frase de
adoração ao senhor. Terrível!!!
Considerando-se que eu vestia uma
camisa do Slayer e que a ilustre
senhora cantava (sim, para meu desgosto maior, ela acompanhava a música), mirando incessantemente o meu
rosto e a indumentária citada, entendi aquele show gospel ao pé do ouvido como uma
espécie de “recado de deus para um infiel perdido”. Como se me forçar a ouvir
aquilo fizesse “Jesus tocar meu coração”. Mesmo que não fosse o caso, e eu estiver
pensando idiotamente, que sou o centro do universo, o ato seguiria sendo
desrespeitoso e equivocado, visto que o ônibus é um ambiente público.
O RESULTADO
Não deu certo! A atitude
ostensiva, nada discreta, nem um pouco sutil e, acima de tudo, covarde desta mulher fez com que minha
falta de identificação com o cristianismo aumentasse sobremaneira. Mas não fiz
nada. Evitei provável confusão. Fui aguentando a tortura até o desembarque. Em meio ao calor, ao aperto do ônibus, meu cérebro queria explodir a cada berro da
cantora, a cada réplica do coral. Aí pensei: "será que os não crentes fazem isso"?
Nunca vi um ateu ou um agnóstico
ligar um celular para tentar convencer alguém de suas orientações filosóficas!
Nunca vi um ateu ou agnóstico parando pessoas na rua para GRITAR sua “verdade absoluta”.
Eu nunca vi. Se você já viu, escreva no seu blog. Mas, se o fizessem,
certamente seriam admoestados verbal e/ou fisicamente!
A CONCLUSÃO
Entretanto isto aqui não pretende
ser um texto anti-evangélicos. É de Voltaire
a frase que cita o direito de expressão e que eu admiro muito: Posso não concordar com uma só palavra tua,
mas defenderei até a morte o teu direito de dizê-la. Portanto, não precisa
ligar celular no meu ouvido de maneira sorrateira! Podemos conversar
civilizadamente e com respeito.
No dia em que as individualidades
forem respeitadas, creio que viveremos mais felizes. Certamente teremos um
indivíduo gradativamente mais livre,
mais independente de amarras políticas, sociais ou religiosas (que sejam!). Um
homem com menos fantasmas emocionais e espirituais. Mas até lá, convém que este
modo de agir invasivo e mal educado, vindo de quem quer que seja, independente
da “causa” defendida, passe por séria reflexão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário