segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Imun Disse do Ônibus:


A INTRODUÇÃO

Quer repelir uma pessoa instantaneamente? Então tente convencê-la de algo que ela não acredita “no grito”. Tente persuadir pela força (o que já é um contrassenso), e você perderá o respeito do interlocutor.

O FATO

Uma distinta senhora sentou-se ao meu lado no ônibus Pituba - São Rafael. Chegou cantarolando baixinho algo bem agudo, que logo decifrei: era um hino a Jesus Cristo. Até aí tudo bem. Havia ainda uma atmosfera de respeito entre nós. Cumprimentamo-nos com um “boa tarde” formal e a viagem seguiu.

Só que eu não entendo por qual motivo algumas pessoas, militantes de qualquer que seja a “causa”, querem enfiar suas idéias na cabeça de outras pessoas. Não demorou muito para que minha vizinha de tamborete ligasse o aparelho celular na função Atormentar a Todos Com Música Em Local Público. Aí foi de lascar!

Fui posto em contato, forçadamente, sem direito a reclamação, a um pesadelo sonoro de dar dó. Um daqueles lamentos de 10 minutos em que a cantora grita muito (mas muito mesmo), repetindo umas duas centenas de vezes a mesma frase de adoração ao senhor. Terrível!!!

Considerando-se que eu vestia uma camisa do Slayer e que a ilustre senhora cantava (sim, para meu desgosto maior, ela acompanhava a música), mirando incessantemente o meu rosto e a indumentária citada, entendi aquele show gospel ao pé do ouvido como uma espécie de “recado de deus para um infiel perdido”. Como se me forçar a ouvir aquilo fizesse “Jesus tocar meu coração”. Mesmo que não fosse o caso, e eu estiver pensando idiotamente, que sou o centro do universo, o ato seguiria sendo desrespeitoso e equivocado, visto que o ônibus é um ambiente público.  

O RESULTADO

Não deu certo! A atitude ostensiva, nada discreta, nem um pouco sutil e, acima de tudo, covarde desta mulher fez com que minha falta de identificação com o cristianismo aumentasse sobremaneira. Mas não fiz nada. Evitei provável confusão. Fui aguentando a tortura até o desembarque. Em meio ao calor, ao aperto do ônibus, meu cérebro queria explodir a cada berro da cantora, a cada réplica do coral. Aí pensei: "será que os não crentes fazem isso"?

Nunca vi um ateu ou um agnóstico ligar um celular para tentar convencer alguém de suas orientações filosóficas! Nunca vi um ateu ou agnóstico parando pessoas na rua para GRITAR sua “verdade absoluta”. Eu nunca vi. Se você já viu, escreva no seu blog. Mas, se o fizessem, certamente seriam admoestados verbal e/ou fisicamente!

A CONCLUSÃO

Entretanto isto aqui não pretende ser um texto anti-evangélicos. É de Voltaire a frase que cita o direito de expressão e que eu admiro muito: Posso não concordar com uma só palavra tua, mas defenderei até a morte o teu direito de dizê-la. Portanto, não precisa ligar celular no meu ouvido de maneira sorrateira! Podemos conversar civilizadamente e com respeito. 

No dia em que as individualidades forem respeitadas, creio que viveremos mais felizes. Certamente teremos um indivíduo gradativamente mais livre, mais independente de amarras políticas, sociais ou religiosas (que sejam!). Um homem com menos fantasmas emocionais e espirituais. Mas até lá, convém que este modo de agir invasivo e mal educado, vindo de quem quer que seja, independente da “causa” defendida, passe por séria reflexão.          

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