segunda-feira, 9 de abril de 2012

Imun é do Rock!!!


Não foram poucas as vezes que eu ouvi gente boa dizer que o rock faz com que o gosto musical de quem o aprecia fique restrito. O rock, segundo estas pessoas, cristaliza algumas formas estéticas na cabeça dos que consomem este tipo de cultura (que, efetivamente, são vários formatos, advindos de diversas culturas).

Pode até ser que isso se aplique nos casos em que o indivíduo (e há indivíduo em 2012?) escolhe ou só consegue se reconhecer socialmente como parte de um gueto específico. Mas isso independe da música e se relaciona mais com aceitação e zona de conforto. Repare que não estou eximindo a música enquanto partícipe deste processo de socialização. Mas é isso que ela é: um fragmento importante. E não o supra sumo irreversível. 
O que de fato me interessa é tirar a teia de aranha ignorante que há sobre esta impressão decrépita, segundo a qual o rock molda pessoas de cabeça fechada, avessas a outras formas de manifestação. Não acho, sinceramente, que via de regra, o apreciador do rock seja este sujeito idiota, incapaz de transitar por outros ambientes musicais/culturais.

Na minha roqueira interpretação, o que rola é um upgrade no nível de exigência quanto ao apuro artístico devotado à obra de arte no HD de quem ouve rock. Pretensioso? Sim! Mas o rock é pretensioso! Tem outras intenções, além da velha mordida no cifrão do fã. O rock ainda deixa um espaçozinho para a arte.  

Repito: há “vários rocks”. Do mais simples ao mais rebuscado. Tem rock fantástico e rock horrível (e qualquer juízo de valor é você quem faz). E boa parte da produção é lírica ou musicalmente interessante. Ocorrendo às vezes até um casamento entre estas grandezas. Se não é todo mundo que ouve rock confortavelmente, talvez não seja tão fácil agradar a um roqueiro com outra estratégia. Problema de mercado seu!

Gostaria de agradecer ao rock por me mostrar um montão de coisa legal em termos de música, cultura e estética. Obrigado por me fazer mais crítico e menos suscetível a lesões cerebrais causadas pela indústria fonográfica escrota. Quero agradecer por ser a maior criação da indústria fonográfica escrota de todos os tempos! Hehehe...

Valeu também por nunca tentar sacanear minhas puladas e cerca para encontros casuais com um jazz, uma bossa nova, um samba, uma música brega, um hip hop...
Valeu rockão encapetado de cada dia!!! 

sexta-feira, 2 de março de 2012

Imun Disse dos aparelhos de som:


Como faz falta um aparelho de som potente, com graves brutais e bem equalizado. A gente se acostuma (eu não!) a ouvir som nessas caixinhas de computador e notebook e nestes fones de ouvido de celular. Mas não é e nunca vai ser a mesma coisa de uma aparelhagem pesada.

Eu lembro quando havia quatro caixas de som aqui no meu muquifo. Duas caixas grandes, uma em cada lado do quarto, ambas suspensas à altura do teto. As outras duas postadas na parte inferior, servindo de suporte para um antigo módulo de equalização. Havia as opções K7, CD e até vinil (embora a agulha estivesse sempre quebrada).

Ficava-se dentro de uma bolha de música. E nem precisava botar o som “no talo”. Qualidade é melhor que volume (aprendam pagodeiros de select!). De black metal a jazz, de grindcore a música clássica, tudo passeava por ali. E era uma festa para os ouvidos. Nada destes sonzinhos medíocres, sem profundidade, sem alcance. Nada destes verdadeiros “radinhos de pilha” de hoje em dia.

Enfim...é só saudosismo mesmo. Sei que há aparelhos muito melhores até do que aquele que eu tinha. Também sei que estou ficando velho. Mas enquanto não arrumo uma grana para comprar um som decente, vou, contrariadamente, me divertindo com as caixinhas do notebook mesmo...

(escrito ao som de “Blackman Redemption”, de Bob Marley)    

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Imun Disse do Ônibus:


A INTRODUÇÃO

Quer repelir uma pessoa instantaneamente? Então tente convencê-la de algo que ela não acredita “no grito”. Tente persuadir pela força (o que já é um contrassenso), e você perderá o respeito do interlocutor.

O FATO

Uma distinta senhora sentou-se ao meu lado no ônibus Pituba - São Rafael. Chegou cantarolando baixinho algo bem agudo, que logo decifrei: era um hino a Jesus Cristo. Até aí tudo bem. Havia ainda uma atmosfera de respeito entre nós. Cumprimentamo-nos com um “boa tarde” formal e a viagem seguiu.

Só que eu não entendo por qual motivo algumas pessoas, militantes de qualquer que seja a “causa”, querem enfiar suas idéias na cabeça de outras pessoas. Não demorou muito para que minha vizinha de tamborete ligasse o aparelho celular na função Atormentar a Todos Com Música Em Local Público. Aí foi de lascar!

Fui posto em contato, forçadamente, sem direito a reclamação, a um pesadelo sonoro de dar dó. Um daqueles lamentos de 10 minutos em que a cantora grita muito (mas muito mesmo), repetindo umas duas centenas de vezes a mesma frase de adoração ao senhor. Terrível!!!

Considerando-se que eu vestia uma camisa do Slayer e que a ilustre senhora cantava (sim, para meu desgosto maior, ela acompanhava a música), mirando incessantemente o meu rosto e a indumentária citada, entendi aquele show gospel ao pé do ouvido como uma espécie de “recado de deus para um infiel perdido”. Como se me forçar a ouvir aquilo fizesse “Jesus tocar meu coração”. Mesmo que não fosse o caso, e eu estiver pensando idiotamente, que sou o centro do universo, o ato seguiria sendo desrespeitoso e equivocado, visto que o ônibus é um ambiente público.  

O RESULTADO

Não deu certo! A atitude ostensiva, nada discreta, nem um pouco sutil e, acima de tudo, covarde desta mulher fez com que minha falta de identificação com o cristianismo aumentasse sobremaneira. Mas não fiz nada. Evitei provável confusão. Fui aguentando a tortura até o desembarque. Em meio ao calor, ao aperto do ônibus, meu cérebro queria explodir a cada berro da cantora, a cada réplica do coral. Aí pensei: "será que os não crentes fazem isso"?

Nunca vi um ateu ou um agnóstico ligar um celular para tentar convencer alguém de suas orientações filosóficas! Nunca vi um ateu ou agnóstico parando pessoas na rua para GRITAR sua “verdade absoluta”. Eu nunca vi. Se você já viu, escreva no seu blog. Mas, se o fizessem, certamente seriam admoestados verbal e/ou fisicamente!

A CONCLUSÃO

Entretanto isto aqui não pretende ser um texto anti-evangélicos. É de Voltaire a frase que cita o direito de expressão e que eu admiro muito: Posso não concordar com uma só palavra tua, mas defenderei até a morte o teu direito de dizê-la. Portanto, não precisa ligar celular no meu ouvido de maneira sorrateira! Podemos conversar civilizadamente e com respeito. 

No dia em que as individualidades forem respeitadas, creio que viveremos mais felizes. Certamente teremos um indivíduo gradativamente mais livre, mais independente de amarras políticas, sociais ou religiosas (que sejam!). Um homem com menos fantasmas emocionais e espirituais. Mas até lá, convém que este modo de agir invasivo e mal educado, vindo de quem quer que seja, independente da “causa” defendida, passe por séria reflexão.          

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Prego


Prego era mais uma ordinária cria do caos urbano. Nascido entre dejetos e escórias, sua sorte nunca fora das melhores. Desde a infância acostumou-se a viver mergulhado no desespero social que o cercava. Violência, fome e drogas formavam o caldo grosso e doloroso de sua rotina.
A podridão só era acalmada pelo encantamento proporcionado pelo crack. Prego era um sacizeiro obstinado. Queimava pedras da droga com grande freqüência e extremo afinco. Concentrava-se com a lata na mão trêmula de falanges desgastadas e metia fogo. Era a religião de Prego. Era a mãe de Prego. O crack era a comida, o sexo e a cama do desgraçado pivete.
Morador da praça do Passeio Público, na região central de salvador, garantia o sustento do vício comendo veados velhos que circulavam pelo vizinho bairro dos Barris. Roubava otários na Lapa pela manhã, vadiava e dormia na Praça da Piedade no período vespertino e à noite perambulava, fétido e transtornado pela Praça do Campo Grande.
Prego era feio. Horrível de fato e de nome.  Batizado Luciclebiano pela mãe puta que o abandonara, recebeu o apelido de “Prego” dos colegas de rua e de drogas devido ao formato do corpo. Cabeça enorme e corpo extremamente magro, seco mesmo.  Não possuía os dentes da frente. No lugar, o vazio formava uma pequena janela de acesso ao inferno de doenças que infestavam o organismo pútrido. O rosto era apinhado de cicatrizes e marcas das mais variadas origens e infecções.
Arrastava-se malandramente, com o corpo arqueado de preguiça e embriaguês. Fardando sempre uma camisa do Bahia toda brocada, Prego gostava de desafiar a polícia xingando todas as viaturas que passavam: “Vai, viado!!! Fila da puta!!!”. Por falar em polícia, não foram raras as vezes em que o inditoso rapaz visitara a carceragem do complexo penitenciário dos Barris. Seus deslizes mais comuns eram roubo e furto. Mas também já caíra por atentado violento ao pudor, tráfico, desacato, briga de carnaval e desordem pública.
Sentia-se vaidoso pelo histórico de mau elemento, ostentava as cagadas nas quais se metia sempre que possível. Enumerava, faceiro, os atos de barbárie e bobagens de pivete nas conversas com outros filhos de putas que encontrava pela vida.  Atitude que o tornava uma espécie de líder entre os pedaços de lixo humano que o acompanhavam nas rodas de conversa fiada e mentiras cabeludas. 
Um dos lugares preferidos de Prego, fora as praças do Centro era a cadeia de bares localizada em frente ao Forte de São Pedro. Zanzava sempre por ali, na espreita, ligado, esperando algum playboy dar mole, para furtar alguma coisa. Pedia cigarros, goles de cerveja, bulia com a mulher dos outros e espalhava fedor e medo por onde houvesse sombra de si.
Prego morreu em 2009, aos vinte e poucos anos (nem ele tinha certeza da idade), atropelado por um coletivo que fazia a linha Campo Grande – Villas do Atlântico, em frente ao Colégio 2 de Julho, no Garcia. No bolso da bermuda Cycrone, havia uma pequena pedra de crack, uma nota de 2 reais, um chaveiro do Bahia sem chaves e muito, muito ódio do mundo acumulado.  

domingo, 1 de janeiro de 2012

Um Encontro



No hall de entrada do prédio vizinho deu-se o encontro. A menina exalava certo exagero de perfume bom e arreganhava sorriso. Os cabelos vinham em seguida, despojadamente presos e a roupa era destas comuns, de estar em casa. De quase estar na cama. Linda menina! O rapaz tinha um ar de galã contemporâneo, com cabelo esquisitamente vetorizado para 3 direções diferentes, vestia roupa apertada, para destacar a musculatura peitoral que imaginava ter, e não tinha. Era mais para esquisito mesmo. 

Certo é que ambos sofriam de pouca idade. Aquela época da vida em que o hormônio grita e o neurônio dorme ou usa fones de ouvido. E, em meio a suspiros quase imperceptíveis e brilho de olhos nervosos, o casal (?) tentava disfarçar de amizade um envolvimento flagrantemente mais aprofundado. Conservavam certa distância, como que preservando-se inconscientemente.  

Faziam planos. Tramavam juntos alguma ação aparentemente importante. O tom era grave entre os gestos contidos. E o que de tão grave poderia suscitar tamanho zelo na ação pessoas de existência relativamente tenra? Apontavam caminhos, enumeravam obstáculos, eliminavam estratégias, observavam a exatidão do tempo, solucionavam problemas recém ventilados. Tentavam cobrir todas as possibilidades de êxito e fracasso.

Concordaram depois de tenso e saboroso debate. Despediram-se com sorrisos de  cumplicidade quase imoral. Ela entrou no prédio. Ele saiu pelo portão. E agora, passados 20 minutos do encontro, não há perfume exagerado que seja só dela. Não há direção definida perceptível no cabelo esquisito dele. Ela finalmente sentiu os cabelos serem soltos com carinho desajeitado. Ele pôde enfim, abandonar a pose de "galã contemporâneo".  

Deu tudo certo. Plano perfeito! Roupas são montanhas felizmente desertas. E o melhor: ninguém percebeu nada!    

















quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

SOM INSTRUMENTAL NO RED RIVER


Três nomes que representam o rock instrumental de Salvador - Tentrio, Hessel e Peito de Planta, se reúnem à banda Jonas – única não instrumental da noite –, para se apresentar no Dubliners Irish Pub (Rio Vermelho). Neste primeiro sábado de 2012 (07 de janeiro), o público terá a oportunidade de começar o ano testemunhando a reunião de quatro bandas com trabalhos autorais que se destacam pela personalidade, em momentos que vão das experimentações instrumentais ao clássico rock pesado. Os ingressos custam R$ 10 e o show começa às 22h.
|Serviço|
PEITO DE PLANTA | HESSEL | TENTRIO | JONAS
Quando: 07/01/2012 (sábado), às 22h
Onde: Dubliners Irish Pub (Rio Vermelho)
Quanto: R$ 10,00
Peito de Planta: http://www.myspace.com/peitodeplanta
Hessel: http://www.myspace.com/hesselrock
Tentrio: http://www.myspace.com/tentriorock
Jonas: http://www.myspace.com/conjuntojonas


Fonte: 07/01/12 - Peito de Planta, Hessel, Tentrio, Jonas (Salvador - BA) - Agenda http://whiplash.net/materias/agenda/144763.html#ixzz1hw6YDRod

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

2012, dá pra anestesiar antes?

Chegado este período mágico, colorido, cheio de falsidade e hipocrisia, chamado “final do ano”, resolvi externar o meu repúdio a mais um acidente cronológico: o Ano de 2011. Puta que pariu, que merda de ano!!! Eu ia fazer uma “Retrospectiva” geral, mas fiquei com medo de vomitar no teclado. Limitar-me-ei, pois, a escrever sobre os meus trezentos e sessenta e poucos dias. 

Escrever o meu livro sobre o Solar do Unhão tomou-me tempo o bastante para que eu nem ousasse procurar um trabalho. Destarte, passei um ano de penúria financeira. A pobreza do bolso, fez-me mergulhar na miséria espiritual, afundando minhas horas vagas em botecos podres, bebendo cervejas horríveis e fumando Hollywood vermelho. 

Quando terminei a árdua tarefa de escrever, estava pronto para curtir um pouco e, em seguida, catar um trampo, fui brincar de queda de braço. Como deus é fiel e jesus me ama, a inditosa brincadeira acabou com uma bestial fratura no úmero direito, que transformou minha vida num caldo de inércia, paralisia, tédio e dor.

Neste período vi o mundo partir em desvairada cavalgada e eu, engessado de tudo, fiquei parado. O medo de ter que parar de tocar bateria, de ter que aprender a escrever com um braço só, de me ferrar no dia a dia mais do que o habitual, tomava conta da minha cabeça já não muito boa. Meses (meses!) de cama e movimentos cuidadosos, até a fisioterapia salvar alguns dos meus movimentos braçais.

Braço tratado, oitenta por cento deste problema resolvido, fui curtir um som na praça. Como deus é fiel pra caralho e jesus quer casar comigo: deslocamento brutal da patela esquerda. Uma dor de fazer as bolas do saco trocarem de lugar em movimento espiral! E, neste momento escrevo-te com uma bolsa de gelo no meu empelotado, imobilizado, dolorido e horrendo joelho. Tramadol para ficar doidão e abstinência de vida por mais algum tempo. 

Fora os problemas dos amigos que foram graves e me fizeram comprovar antiga suspeita da existência de uma profundidade contundente no termo e na relação de amizade. Que todos encontrem resignação, força e alegria, se der.

Como diria o Cartola: tive sim, momentos legais neste ano, tive sim...Mas não chegam a arranhar o montante de infortúnios. Portanto, quando alguém me deseja “feliz ano novo”, fico imaginando que se ao menos eu me estrepar um tanto menos, já será uma glória!

Mesmo assim, caiamos para dentro! 2012, se plante! Se vier, que venha armado!!!