domingo, 1 de janeiro de 2012

Um Encontro



No hall de entrada do prédio vizinho deu-se o encontro. A menina exalava certo exagero de perfume bom e arreganhava sorriso. Os cabelos vinham em seguida, despojadamente presos e a roupa era destas comuns, de estar em casa. De quase estar na cama. Linda menina! O rapaz tinha um ar de galã contemporâneo, com cabelo esquisitamente vetorizado para 3 direções diferentes, vestia roupa apertada, para destacar a musculatura peitoral que imaginava ter, e não tinha. Era mais para esquisito mesmo. 

Certo é que ambos sofriam de pouca idade. Aquela época da vida em que o hormônio grita e o neurônio dorme ou usa fones de ouvido. E, em meio a suspiros quase imperceptíveis e brilho de olhos nervosos, o casal (?) tentava disfarçar de amizade um envolvimento flagrantemente mais aprofundado. Conservavam certa distância, como que preservando-se inconscientemente.  

Faziam planos. Tramavam juntos alguma ação aparentemente importante. O tom era grave entre os gestos contidos. E o que de tão grave poderia suscitar tamanho zelo na ação pessoas de existência relativamente tenra? Apontavam caminhos, enumeravam obstáculos, eliminavam estratégias, observavam a exatidão do tempo, solucionavam problemas recém ventilados. Tentavam cobrir todas as possibilidades de êxito e fracasso.

Concordaram depois de tenso e saboroso debate. Despediram-se com sorrisos de  cumplicidade quase imoral. Ela entrou no prédio. Ele saiu pelo portão. E agora, passados 20 minutos do encontro, não há perfume exagerado que seja só dela. Não há direção definida perceptível no cabelo esquisito dele. Ela finalmente sentiu os cabelos serem soltos com carinho desajeitado. Ele pôde enfim, abandonar a pose de "galã contemporâneo".  

Deu tudo certo. Plano perfeito! Roupas são montanhas felizmente desertas. E o melhor: ninguém percebeu nada!    

















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