A exacerbação vulgarizante da sensualidade/sexualidade nunca me pareceu meramente um traço identitário de um povo alegre e despojado por natureza. Muito antes disso, atribuo a sacanização da atitude brasileira a um reflexo, uma reação, um contra-ataque à extrema caretice nacional. O faço sem grandes pesquisas que comprovem tecnicamente o discurso.
Somente observo e imagino que enquanto o modus operandi humano estiver preso a correntes morais com bases metafísicas (como no caso das religiões) ou violentas e descontextualizadas pela deseducação de parte a parte (caso da repressão policial/institucional), a putaria vai ser utilizada para chocar.
Achar que músicas medonhas de “duplo sentido” sendo executadas no rádio é um sinal de libertação é uma ingenuidade. A libertinagem só tem este cartaz todo porque é alimentada, na maioria das vezes de forma coletiva e inconsciente, pela capacidade de afetar, chamar atenção e, até mesmo de azucrinar o próximo.
Exemplo tosco:
É mais ou menos o que ocorre com um guri que grita palavrões a esmo dentro de um ônibus cheio de senhoras recatadas. Ele talvez nem perceba, mas o faz para chamar atenção e incomodar a caretice. Se alguém faz cara feia, ele grita mais alto e adiciona mais palavrões ao vocabulário. É, num paradoxo esquisito, um reforço positivo para aquela atitude. Mas se é ignorado, o sacaninha logo cansa, se sente desarmado e vai se calando.
Não vou estender mais este texto. Se você chegou até aqui, saiba que eu só gostaria de abrir discussão sobre o assunto. A mentalidade quadrada de grandes grupos sociais, que flagrantemente mantém o sexo e as sexualidades em estágio de tabu, pode ser o criatório primordial da escrotização das manifestações públicas referentes ao tema?
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