quinta-feira, 19 de maio de 2011

Amor?



Não, menina! Não é só amor, não!

Tem também o trabalho maçante, o trânsito insano, as improdutivas filas de supermercado, as humilhantes filas de banco. Tem ainda o calor de um sol desnecessário, que castiga, machucando a pele. Tem um céu de nuvens pesadas que guardam a chuva um tanto de tempo para em seguida derramar poluição pela imundice irreversível da cidade. Tem a fome grosseira das crianças viciadas.

E existem também os velhos deprimidos pelo desuso. A paralisia dos conceitos perpetuamente aninhados num vão de finalidade. O congelamento da historia. A falta de criação. A falência múltipla das coisas. Anos desperdiçados com sonhos inexeqüíveis.
A sustentação da moral pedófila e mau caráter. O caráter pueril das certezas. A convulsão anoréxica das relações humanas. O roubo seguido de morte sem plano e sem razão. Fiapos de alegria no tecido infinito de angustia.

Há também a cotidiana dor em festa. O som estridente do desespero social travestido em festa. O teor pré arranjado e sem alma da festa. A festa de sorrisos obrigatórios.
A alucinação generalizada em estado de festa. A não-festa carnavalesca. Há ainda HIV, igrejas, racismo e bullying.

Metralhadoras de doenças recém nascidas da mão cientifica que conta dinheiro entre tubos de ensaio recheados de fetos vivos. A gênese amorosa do mal em estado de graça! Sim, existem ainda os microondas inocentes aquecendo pratos de câncer com paixão. Tumores desimportantes, crescendo entre goles distraídos. Cegueira, infertilidade, sujeira e suicídios.

Um comentário:

  1. "O roubo seguido de morte sem plano e sem razão."
    Crime e Castigo - Dostoiévski.
    hehe

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