A dor da gente é a que mais dói. É curioso que muita gente não entenda isso. Quando alguém se queixa de dor (física ou psicológica), logo chega um amigo cheio de boas intenções para dizer: “Quem sofre mesmo é o fulaninho...” e começa a enumerar uma lista de infortúnios que transformaram a vida do “fulaninho” em inferno.
Fazem isso para tentar estabelecer uma comparação e “desqualificar o suplício” do interlocutor dolorido. Comparar sofrimentos? Não se pode tentar incutir uma graduação no conceito de dor com exemplos de que existe muita gente que sofre mais e com maior frequência. Não funciona assim. O argumento de que alguém ta mais na merda do que você não ajuda em nada.
O que ocorre é que, além de continuar sentindo a dor que motivou a conversa, você vai ter que abrir espaço para expressões forçadas de compaixão. Portanto, quando alguém disser que está com dor, procure evitar estes exemplos vazios. Tente ajudar, ligue SAMU 192, chame o IML ou, se for FDP ignore em silêncio. Mas não percamos tempo fofocando dobre fraturas alheias!!!
Eu quase nunca sei ao certo o que dizer frente ao sofrimento alheio. A postura correta é sempre muito difícil. Na maioria das vezes tento encontrar soluções ou discutir possíveis terapias. Porém, o que me deixa angustiada é quando o sofredor engole a seco a sua dor e, mesmo compreendendo que podem existir meios de prevenir o problema, é tomado pela procrastinação da vida que realmente deseja. Às vezes há a escolha, às vezes há uma aprisionante bolha.
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